16 de maio de 2012

Síndrome do Suco de Caixinha


Olá, meus queridos amigos e leitores! O texto de hoje trata de uma observação que fiz sobre as pessoas, depois de vivenciar algumas experiências e ter algumas conversas, acabei fazendo um link entre uma situação cotidiana no supermercado e o acondicionamento que o ser humano vem fazendo com seus sentimentos e emoções. Estamos na "Era dos Amores Enlatados", que vêm com manual de procedimentos, onde não há espaço para autenticidade, naturalidade e troca verdadeira de pensamentos e experiências...

Bom, gostaria de lembrar que suas sugestões de temas, críticas, histórias e dúvidas são sempre benvindas e respondidas no email avidaemmiudos@gmail.com. Espero a sua colaboração! Um grande abraço e boa leitura. Aguardo seus comentários!

Vamos deixar os sentimentos estilo "Suco de caixinha" de lado e nos libertarmos dessas amarras de sentimentos, assim como já citou Johann Goethe: "Mas onde se deve procurar a liberdade é nos sentimentos. Esses é que são a essência viva da alma."

Ontem eu estava no supermercado e fui escolher algo para o lanche da noite. Enquanto me via em meio a várias possibilidades, perdi meu irmão de vista e saí em uma busca desesperada atrás dele. Havia deixado meu celular em casa, então, depois de muito andar, resolvi ficar parada na seção de bebidas (que fica bem próxima à parte onde ficam as frutas) e esperar que ele me achasse, o danado é mais esperto do que eu, cedo ou tarde daria o seu ar da graça! De repente me surgiu uma dúvida: levaria suco de caixinha ou frutas para fazer um suco natural?

Então, iniciei uma observação involuntária dos consumidores que passavam por ali, percebi que eles preferiam comprar o suco preparado, envasado e colocado na prateleira por outros indivíduos que nem conheciam. Vários sabores fabricados, era só chegar ali na frente, pegar e colocar no carrinho de compras. Ao mesmo tempo, a seção de frutas ficava mais parada, só umas poucas pessoas se dispunham a escolher laranjas, limões, abacaxis e maracujás e levá-los para casa... Comecei a olhar àquilo com olhar de raio-X e tentei entender o que estava acontecendo.

Os indivíduos estão dispostos a pagar mais caro por industrializados, por pura comodidade, assim é mais fácil, não? Mesmo que esses venham com um sabor não tão bom quanto o natural, sempre sem surpresas. As pessoas, cômodas, acabam se adaptando aos seus sabores. Não deveria ser o contrário? Estão preferindo enlatados previsíveis, a selecionar, empacotar, pesar, lavar e deixá-los a seus gostos. Assim estão fazendo com os sentimentos, tornando tudo ao seu redor extremamente sem encantamento, sem gostos diferentes. “Estamos vivendo a síndrome do suco de caixinha.”, pensei.

Estamos acostumados com sensações iguais, enlatadas e distribuídas em massa. E não procuramos ser diferentes. Sentir virou um jogo, cheio de regras, sem espaço para a autenticidade e desejos. O outro virou objeto e nós nos tornamos, a cada dia, robôs moldados pela sociedade que anda cada vez mais egoísta, conformada e limitada, quanto às suas emoções. Não se pode ser e nem sentir genuinamente.

Se você gosta de uma pessoa e demonstra interesse, não pode porque ela se afasta e tem noventa e nove por cento de chance de sumir da sua vida. Se tem vontade de ligar, acaba não ligando, porque o outro pode achar que você está apaixonado. Se escutou uma música ou viu alguma coisa que te lembrou a pessoa, não pode falar, porque é um sinal claro de interesse. Sinceramente, as pessoas estão se tornando covardes. Será que não há espaço para amizade? Será que alguém gostar de você é algo negativo? Por que tanto medo e insegurança com situações tão banais?

Situações tão cotidianas estão se tornando verdadeiros mistérios que precisam ser desvendados a cada dia. Uma ação acaba tendo vários possíveis significados e no final, temos receio de perguntar ao outro o que ele quis dizer realmente.

Dizer o que sentimos deveria ser simples e prazeroso, mas vem se tornando doloroso e vergonhoso. Se expressar não é mais normal, é sinal de fraqueza num mundo onde a vida é corrida e sutilezas deixam de ser notadas por nossos olhares treinados. Deixa-se de valorizar o interior, questionamentos, ideias e as pessoas ficam vazias, sempre procurando preencher um buraco que se torna mais profundo.

O que buscamos está dentro de nós mesmos! Não sabemos mais sentir, desaprendemos a amar, a ver a vida com paixão... Mas como reaprender a sentir? Emoções, assim como as frutas, devem ser cultivadas, colhidas com cuidado, quando nos são oferecidas, devem ser selecionadas, envolvidas, pesadas (pela balança do coração), guardadas e devidamente adaptadas aos nossos gostos, tudo bem que pode haver vezes em que fique um pouco azeda, mais doce ou sem gosto, o segredo aqui é admitir que se ficou desse jeito, a responsabilidade foi sua e não de alguém que preparou.

Devemos parar com esses joguinhos tolos e deixarmos as situações rolarem, palavras fluírem a simpatias surgirem. Porque se estiver a fim de jogar, não chame alguém para uma saída comum, chame para uma partida de xadrez, que, pode acreditar, desenvolve muito mais o pensamento estrategista e no final, será uma experiência de grande valia.

Bom, creio que felizes eram os nossos ancestrais, que escreviam cartas de amor, dedicavam músicas e poemas aos seus amados, davam rosas e faziam serenatas sem se preocuparem com o que poderiam achar, já que era normal. Amar é normal, minha gente, acondicionem isso em suas mentes!

Meu irmão reapareceu entre esses tantos pensamentos que se fizeram em minha mente, um alívio enorme se instalou dentro de mim e nisso, vi uma pessoa escolhendo seu suco, disse para ela em pensamento, querendo que todos escutassem: “Faça diferente hoje, chute essa pilha de sucos de caixinha que se coloca em sua frente!” - e abrace, ligue, demonstre seus sentimentos, escolha, dance na chuva, observe o por do sol e não se conforme com o que lhe é imposto. Abra-se e abrace novas sensações e o autoconhecimento. Fortes são os que se arriscam, são os capazes de reconhecer suas emoções!

Se alguém te chamar de fraco, tolo, louco, idiota... Lembre-se de que muita gente vive à procura do amar e não vive o amor. Pare de procurar: e sinta (e viva). Porque amar, é sentir, sentir é viver. Preferível é morrer de tanto amor do que morrer sem nunca ter amado (e na minha humilde opinião, sem ter vivido).

Me dirigi às frutas e com muito cuidado escolhi um belo de um abacaxi para descascar e adoçá-lo para meu consumo. Por debaixo daquela casca grossa e "coroa cortante", há delícia, pode acreditar...

11 comentários:

  1. Belo texto. Você conseguiu fazer uma observação bem realista do mundo ao redor e ao mesmo tempo fazer uma aplicação direta ao mundo dos sentimentos, apreciei muito esta leitura, obrigado por compartilhar...

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    1. Ei, Peullo! Obrigada pelo elogio! Seus textos é que são maravilhosos, até hoje não houve um que não gostasse!

      Beijo!

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  2. É isso, exatamente isso! Não quero ter medo dos significados atribuídos a cada gesto ou palavra meus! Gosto sim de vc, vc aí ó! Presta atenção fulano/a que isso quer dizer exatamente isso que eu disse, que gosto de vc. Não é pedido de casamento, pressão de compromisso, negação de amor mais forte, nada dessas bobagens que tantos fulanos e fulanas têm me dito em interpretações que só fazem diminuir nossa vontade de falar que gostamos uns dos outros...

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    1. Adorei seu comentário. Sem mais. Dele pode surgir um post.

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  3. Por isso eu sempre digo que nasci na época errada...

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    1. Nada, nós é que estamos fazendo as coisas erradas.

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  4. Adorei o comentário da Alice! E adorei o texto, prima! Sei bem como é essa síndrome e concordo com vc, ta mais que na hora de nos livrarmos dela...

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    1. É, prima, temos que nos livrar dessas emoções enlatadas... Não valem de nada... Um beijo!

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  5. Muito legal o texto..gostei do jeito como atribuiu os sentimentos aos produtos industrializados...Realmentes hoje em dia as pessoas estão cada vez mais "artficiais" e consequentemente mais "superficiais"...acho que ainda vai ficar pior. =/

    Qto ao abacaxi..rs..prefiro que descasquem pra mim..kkkkkk

    beijinho e valeu pela visita no meu cantinho.

    Nina

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  6. Muito bom o post amiga e o comentario da Alice inspirador e verdadeiro. São tantas explicações que temos que dar para uma coisa tão natural que a vontade de fazer essas coisas infelizmente some.

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  7. Consigo me identificar nesse texto. Muito bom...é pra que eu possa entender porque pessoas ao meu redor abrem mão facilmente de sentir, sofrer e viver.
    Sofro, logo vivo! Eu penso assim e tento por em prática.

    Parabéns!

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