Casualmente não tão casual

Difícil é ser indiferente quando se quer mais.

Duas pessoas totalmente diferentes. Colegas de sala que trocaram palavras umas poucas vezes durante um semestre. Para ela, ele era baixinho, marrento, desarrumado, largado, metido... Só mais um cara. Para ele, ela era apenas uma garota faladeira, esquisita que sentava nas carteiras da frente nas aulas... Só mais uma colega de sala.

Ele já havia beijado a amiga dela. Ela riu quando soube.

E as férias chegaram. E veio o carnaval. E veio a bebida. E veio o beijo. E vieram os amassos. E veio o sexo. E voltaram as aulas.

Para ele, satisfação. Para ela, prazer e culpa. E depois, consequências.

O que havia acontecido não se resumia a uma situação qualquer. Os dois iriam se ver frequentemente. O problema era sempre se lembrar do beijo ardente, da pegada forte, do sexo gostoso ,toda vez que se cruzassem nos corredores da faculdade. E as cruzadas de olhares desconfiados (“Será que ele(a) quer também?”), penetrantes e cheios de desejo se tornavam cada vez mais insuportáveis.

Ela sou eu.

A cada cumprimento, imaginava ele me despindo, a cada toque desconcertado, passavam na minha cabeça cenas dele percorrendo todo o meu corpo com toda a vontade. Quando ouvia a sua voz falar o meu nome, o via sobre mim, quente, e sua boca na minha orelha dizendo tudo aquilo que me fazia perder alguma vergonha.

Tormento eterno vê-lo todos os dias e ter vontade trazê-lo para bem perto de mim e poder arrancar de seus lábios mais um profundo beijo, colocar suas mãos em minha cintura e deixá-lo me embalar em seu ritmo. Ouvir sua respiração ofegante se misturando às minhas tentativas desesperadas de não me expressar tão alto... Olhar no fundo de seus olhos e descansarmos juntos na mesma sintonia.

Uma única vez.

E eles continuam se vendo. Todos os dias. E eles se cumprimentam. Ele tenta. A amiga olha torto. Ela evita. Ele continua marrento e ela, esquisita. No entanto, ele não é só mais um cara. Ela não é só mais uma colega de sala. E nem querem ser!