30 de março de 2012

Se beber, não ligue!

"Passamos metade do tempo à espera daqueles que amamos e a outra metade a deixar os que amamos." - Victor Hugo

Ligou para ela numa madrugada, tinha bebido umas a mais:

- Alôôu!

Marina não acreditava naquela ligação às 3 horas da manhã, mas seria possível? Número desconhecido, mas vai que era algum amigo em apuros?

- Aaalô! – Disse ela com aquela voz arrastada. E fez a pergunta que não queria calar. – Quem é? Aconteceu alguma coisa?

- Oi, gata, estava aqui pensando em você...  Como você não sabe quem sou eu? O que “cê tá fazendo”?

“Não acredito que é o Ricardo! Fica meses sem me procurar e ainda tem a cara de pau de me ligar numa madrugada qualquer e acabar com meu sono!”

- Era para eu supostamente estar dormindo, mas pelo visto você estragou minha bela noite de sonhos... Né, Ricardo?

- Aposto que “tava” sonhando comigo! – Ele se ria por dentro.

- Sonho e você nunca se encaixariam numa mesma frase! Como alguém pode ser tão sacana, não tem vergonha, não? – Marina teve um surto por um momento.

- Nossa, bem, achei que você ia me chamar pra um particular... – e realmente ele esperava por isso!

- Particular só meus pensamentos sobre você neste exato momento, Ricardo! Como você pode...?

- ... Pensar em você todos os dias? – Retrucou.

- Não é hora para conversar! Quero dormir. E nunca mais com você. Nunca, viu? – Ela queria deixar bem claro para ele e para si mesma que nunca mais poderia haver uma faísca de atração entre os dois.

- Fala assim não, queriiida! – Ele disse com toda a paciência. -Sempre me disse que poderia te ligar quando desse vontade, mesmo de madrugada!

- Mas não depois de me deixar mofando! – Marina não aguentava mais aquele diálogo doido naquele momento.

Ricardo foi sua maior paixão. Ela havia terminado um noivado de dois anos para ficar com ele. Esse homem tinha prometido mundos e fundos para que ficassem juntos. Poucos dias depois de se separar de seu noivo, Marina nunca mais teve uma ligação retornada, uma notícia ou vestígio de que Ricardo estivesse vivo.

- ... Não te entendo, você é uma louca! Foi você quem pediu para...

- ... Você se afastar?

- Exatamente.

- Conta outra! Vai me falar também que você não broxou no dia meu aniversário! – Ela disse com escárnio.

- Mas foi só porque...

- ... Nem vem me falar que era porque eu usei uma fantasia de oncinha e não a lingerie vermelha que você me deu...!

- Você não usou fantasia naquela noite! Nunca te dei lingerie vermelha, você sabe que eu não gosto!

- Agora começou a palhaçada!

- Palhaçada, nada, “cê taí viajando!”.

- Ricardo, não me ligue nunca mais! Apague meu número de sua agenda e se você me procurar, eu juro que arrumo alguém para te dar uma surra! Nossa história já era! Você já era! Não te quero mais. Esse tempo sem você me fez ver como a sua presença me fazia mal! Acabou! Não me procure mais! Eu quero um cara de verdade, coisa que você não é!

Marina desligou o telefone aos prantos, indignada e revoltada com tal atitude. Será que ele não tinha amor à vida? Será que não tinha nenhum tipo de sentimento de culpa por ter feito tudo aquilo com ela?

Do outro lado da linha Ricardo estava inconformado. Como Antonia podia ser tão fria? No dia anterior ela tinha pedido um dia para ela ficar descansando com a mãe e as amigas. Já estavam grudados por muitos dias, fazendo programas sempre juntos. Eles precisavam de um tempo com os amigos. Parecia até que tinha bebido ao invés dele.

- Puxa, Henrique, não entendi o que aconteceu com a Antonia, acabou de romper comigo. Valeu por ter me emprestado o celular... – Agradeceu ao amigo que pacientemente emprestou o telefone enquanto ele tinha esquecido o seu em casa.

Assim que chegou em casa, jogou seu celular da janela do apartamento. No outro dia já havia se resolvido por aceitar a oferta de transferência da empresa para outro estado. Nunca mais ligou para ela.

Antonia nunca mais teve notícias dele, sofreu e não entendeu.

Marina se sentiu mais leve depois de ter falado tudo o que queria. Mas, no fundo, esperava receber aquela ligação novamente.

Ricardo até hoje pensa: “Só liguei para dizer que te amo!”. Porém, continua sendo um cafajeste. Para as duas.

Sim, isso tudo foi só um engano. Por um número.




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