Experiência Compartilhada - O que você faz com seu passado?

Bom dia, pessoal! Nesta terça o post é uma experiência compartilhada, eu e minha prima Erica (Kika para os mais íntimos, ou não.) estávamos conversando depois de muito tempo e começamos a debater porque os seres humanos têm a estranha mania de querer deletar o passado, pessoas e experiências de suas vidas. É aquela coisa: Não gosto, vou passar um corretivo aqui em cima disso tudo e está tudo certo... Como se isso fosse resolver os problemas, os traumas e te fazer seguir em frente. 

Ela me disse que tem essa mania. Eu disse que nunca fui "encanada" com isso. A partir de cada uma responder timidamente a sua opinião, surgiu a ideia de falarmos mais a fundo sobre como tratávamos nosso passado e sobre essa estranha mania do ser humano em textos para serem publicados aqui no blog. É uma experiência muito legal definirmos um tema, neste caso "Pessoas e a mania de achar que podem deletar o passado, pessoas e experiências", e ao fazermos separadamente, percebermos como assuntos são influenciados por nossas vivências e personalidades, tendo um significado para cada um... E é isso que vocês vão perceber ao compararem o texto de hoje com o da próxima terça. O de hoje é de minha autoria, o próximo é o da Kika.

Bom, gostaria de lembrar a todos que aguardo ansiosamente às suas sugestões de tema, melhorias, críticas e dúvidas no email avidaemmiudos@gmail.com e na recém inaugurada página no Facebook, curta lá para participar de novidades que vêm por aí... Um grande beijo e boa leitura!

"Passado: é o futuro usado." - Millôr Fernandes 

Me olho no espelho e começo a reparar em cada traço, marca de expressão, meus olhos e seu brilho intenso, sorrio, fecho a cara... Essa sou eu: os livros que li, os tombos que levei (que não foram poucos), a salada que minha mãe me enfiou “goela abaixo”... Enfim, tudo o que vivi, as minhas escolhas, o meu passado transformado em presente. Presente que moldará o meu futuro.

Perguntei àquela menina mulher que se apresentava no espelho, com cara de interrogação e puxava o rosto para ver se afinava as bochechas que lhe incomodavam: “E aí, se arrepende de alguma coisa que já fez?”. Um sorriso se fez em seu rosto, suas mãos seguraram a sua cintura e com desenvoltura ela me respondeu: “Não!” e me deu uma piscadela.

“Como assim, menina, não se arrepende de nada? Me conte seu segredo para tanta segurança!”. Seus olhos me disseram que não era tanta segurança assim, ela só não era igual à maioria das pessoas que têm a estranha mania de tentar apagar o passado, de tratar a vida como um livro: se um capítulo não agrada, é só ir lá arrancar as páginas e jogá-las fora... Só que essas mesmas pessoas se esquecem nessa hora de que a história perde o fio da meada sem esses capítulos deletados. Porque os subsequentes dependem deles. O final fica sem sentido e não adianta tentar colar novamente as páginas arrancadas. Afinal, passado remexido é passado que se apresenta no presente!

E não adianta reclamar que o passado apareceu de novo na sua vida, que você quer exorcizar esses fantasmas! Se ele se mostra novamente, é porque você deixou, é porque você mexeu e remexeu nele. É porque não se contentou em tê-lo jogado fora e se arrependeu profundamente.

Não adianta querer apagar experiências e pessoas, nem se preocupar em deixar tudo perfeito para que o presente e o futuro entrem em ação, pois isso eles próprios tratam de organizar. Cabe a nós mesmos apenas aceitarmos que eles se apresentem em nossa confusão.

Se sente vergonha de algo que fez, supere! Se algo te feriu tanto que dói só de pensar, passa mertiolate (e hoje nem arde mais!) que passa. Se por acaso não se orgulha de alguma coisa que fez, se orgulhe de ao menos conseguir conviver com ela. Tudo o que você é, o que pensa e o que faz hoje é influenciado por suas escolhas do passado, pelo que fez, pensou e decretou para si mesmo.

Então, fortes são os capazes de aceitar o passado e de deixá-lo lá, como fortaleza, fonte de crescimento e sabedoria. Amanhã seremos tudo o que podemos ser e voltar no tempo não é uma opção. Saber conviver consigo mesmo é uma dádiva, um jeito de olhar a vida com mais leveza e perceber que viver ultrapassa qualquer entendimento.

A menina do espelho então apertou os olhos amendoados e castanhos... E me disse: “É, se tem alguma coisa que poderia mudar são só essas minhas bochechas gordinhas, mas fazer o que, né? Elas são tão irresistíveis e gostosas de apertar... E pare de ficar aí olhando e me passe o sabonete, é hora de preparar a pele para um novo dia!”. Foi aí que eu entendi: O rosto é a vida, com seu passado marcado (como rugas e linhas de expressão), lavar o rosto é a aceitação e o convívio com o que já vivemos (até aquelas experiências mais incômodas), preparando a pele para um novo dia que se apresenta para nós (o presente), as bochechas gordinhas (experiências que incomodam) também têm sua serventia...

Peguei o sabonete, a água fria queimava o meu rosto naquele dia de outono mais gelado do que o normal. Passei um protetor solar, não usei maquiagem, pois queria deixar as minhas marcas evidentes para me recordar das minhas escolhas e mostrá-las orgulhosamente para o mundo. Pois, provocando escárnio ou espanto, esta sou eu, pura e simplesmente! Deal with it!