29 de maio de 2012

Experiência Compartilhada - O que eu faço com o meu passado.

Olá, galera! O post de hoje é mais uma Experiência Compartilhada com a minha prima, Erica. Nós escrevemos sobre o passado, na verdade, a mania que as pessoas têm de querer apagá-lo, deletá-lo de suas vidas. Na terça passada eu apresentei a minha visão sobre isso no texto: "Experiência Compartilhada - O que você faz com o seu passado?", o de hoje foi escrito pela Kika, com uma visão bem diferente do meu. Descubra como um mesmo assunto pode ter visões e significados totalmente diferentes para pessoas distintas e como nossas experiências influenciam nossas opiniões.

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"Everyday I try to lock my past, even though inside I'm such a mess..." - Trecho da música "Invisible" - Skylar Grey.


Eu tenho a péssima mania de ter a última palavra, de tentar ter tudo sob controle, tudo muito bem definido, seguro, organizado. Eu tenho a péssima mania de absorver toda a culpa, mesmo a dos outros, mesmo a que não existe. Eu tenho a péssima mania de tentar me livrar de tudo aquilo que está desorganizado, fora dos meus rígidos padrões – baseados em quê, mesmo? -, de tudo o que me incomoda, que me fere. E desses pequenos hábitos feios e incômodos, veio a necessidade de tentar deletar o passado... 

Tudo estava fora do lugar, por dentro e por fora. O quarto, meu Deus! Nem sei como ainda consegui sobreviver lá dentro... Minha mãe costumava me dizer que se eu não organizasse as coisas à minha volta, não conseguiria organizar minha cabeça, mas a verdade é que o caos que me rodeava era reflexo de outro ainda maior... Invisível, silencioso... Não incomodava a mania de organização da minha mãe (que, por sinal, não se aplica às coisas dela), mas fazia um estrago sem precedências dentro de mim. 

Comecei pelo telefone. Todas as mensagens, todos os registros de telefonemas... Depois rodei o quarto todo, me livrando de cada vestígio... Depois fui pra internet, deletar – no uso mais adequado da palavra – as conversas, os textos... Aqueles textos que eu fiz com tudo o que eu sentia (textos que acabaram só sendo lidos por mim, acredito) e que eram lindos, tenho que reconhecer, mas faziam parte daquilo tudo, da bagunça toda... Eram só mais alguns caquinhos de lembranças que não deixavam a ferida sarar. E sofreram as consequências. 

No fim, parei, respirei fundo e olhei à minha volta: o quarto impecavelmente limpo e organizado (minha mãe ficou muito satisfeita e eu também, admito), meu celular sem nenhuma sombra dele, meu Facebook não deixava sinais de um dia termos feito contato e minha conta do Google, com tudo o que ela envolvia (os textos do blog, por exemplo) já não existiam mais. Por fora, quem não sabia nunca iria imaginar. Podiam passar a vida sem saber que sequer nos conhecemos... Mas aí eu realizei: por fora. Só por fora... Porque aqui dentro os anos ficavam remoendo... Os dias... As noites... A noite... Uma inconsequência, é como eu chamo agora. 

Foi tudo tão rápido, se for olhar por um lado... Por outro, essa história se arrastou por anos... Meses se passavam e por algum motivo, em algum momento, mesmo que nos lugares mais inconvenientes e inesperados, estávamos ali, de novo... E de novo... E de novo... E comecei a acreditar que no fim a amizade é que nos unia, já que só quando não passávamos dela conseguíamos nos entender. Mas o problema era esse: a gente passava. Até aquela noite, quando passou até demais. Não sei o que eu tinha na cabeça. Aliás, acho que certas pessoas, cedo ou tarde, nos farão perder tudo o que temos de ajuizado na cabeça. Ele me tirou do eixo, sempre tirava, mas dessa vez foi longe demais. E veio a culpa, a confusão o desespero... E o caos. 

Hoje chamo de inconsequência, na época chamei de amor. Como se eu soubesse realmente o que era isso... Paixão, quem sabe, mas amor... Ah, amor é muito mais maduro, muito mais... Responsável? Será? Será que o amor não nos faz perder a linha também e acabar em situações caóticas assim? Não, o problema não está em se era amor ou paixão ou o que quer que fosse. Está na minha mania de querer controlar tudo, mas a vida não dá pra controlar. Não dá pra controlar o que os outros sentem. Não dá pra exigir definição de alguém, quando nem eu mesma consigo definir o que sinto, muitas vezes. 

Durante meses que se seguiram depois da “faxina” fui uma máscara de arrogância, frieza e desapego... Demorou um pouco pra eu voltar a ter confiança nas palavras de alguém e a querer me entregar. Pra quem só assistiu de longe pareceu pouco tempo, mas só eu sei quanto tempo realmente levou... Tudo em mim era falso e provavelmente soava falso. Porque eu estava fechada, afogada em mim mesma e naquele rancor... Naquela vergonha... Espera um pouco... Vergonha? Então eu percebi que em algum momento a mágoa havia se convertido em puro orgulho ferido. Um dos meus piores defeitos: o orgulho! E era ele que não deixava eu me libertar de todo aquele peso. 

No fim das contas, o tempo fez o trabalho dele, como sempre faz. Ele nunca para de trabalhar, afinal. E hoje me arrependo de ter me livrado de tudo... Porque depois que eu me desvencilhei do meu orgulho e a ferida fechou, ficou uma cicatriz. Não uma marca que ainda me magoa e me balança, mas um tipo de boletim da vida, entende? Mostrando que eu aprendi mais uma lição. E é assim que funciona a vida: a gente leva choque pra aprender a não botar o dedo na tomada. 

Então tentar apagar seu passado é tentar apagar as lições que recebeu, parte de quem você é agora. E não vale a pena o esforço, porque as marcas sempre vão existir, mesmo que só você as possa sentir... Uma coisa que aprendi foi a me orgulhar das marcas que o tempo deixa em mim, desde que com elas eu carregue também uma lição.

Um comentário:

  1. Apagar textos, fotos, destruir recadinhos, jogar fora presentinhos, nunca! posso até ter escondido algumas fotos, mas as guardei, presentinhos no fundo do armário (vai que um dia precisem ser resgatados), as fotos são de momentos importantes demais para serem deletadas, mas os textos, os poemas, confesso que algumas vezes na fúria do momento apaguei, e me arrependo amargamente disso. É, acho melhor continuar com a minha recém adotada filosofia de vida "só me arrepender do que deixei de fazer, não deixar de fazer nada", que mesmo que esteja me arriscando muito, sei que vale a pena.
    http://lagartaechapeleiro.blogspot.com.br/

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