Para descobrir a delícia de um banho de chuva, é preciso entrar nela sem medo de se molhar. Assim são os amores. Assim é a vida. |
Era apenas mais um final de semana em que nos
encontraríamos, já tinha tomado um belo banho, separado alguns petiscos e
deixado as cervejas gelando. Coloquei uma bela lingerie, uma roupa sugestiva e
um sapato de arrasar. No final das contas ele não iria reparar em nada disso
mesmo. Nosso relacionamento tinha somente um propósito: sexo.
Tínhamos um roteiro definido: tomávamos uns drinques,
comíamos uma comida leve, falávamos trivialidades, nos beijávamos, íamos para a
cama, tínhamos uma bela noite em claro. Ele fumava um cigarro, tomávamos um
banho, com direito a mais um round de prazer pleno. Me vestia, deitava em minha
cama, ele se despedia com um beijo em minha testa e deixava a chave debaixo do
tapete. Na manhã seguinte me mandava um sms agradecendo pela noite e ficava um
tempo sumido. Tempo o bastante para sentir vontade de me “ver” de novo. E o
ritual se repetia.
Ele era um cara legal, mas não sabia muita coisa sobre ele,
só o suficiente para termos momentos ardentes no quarto, sala, cozinha,
banheiro... Bom, não sabia a sua cor preferida, mas sabia que na "hora H" ele
gostava de puxar o meu cabelo, olhar no fundo dos meus olhos e me segurar com
toda a firmeza possível.
Aí você se pergunta como me sinto em relação a isso tudo.
Acho muito bom poder ter um cara para ligar quando sentir vontade e depois de
um tempo ele aparecer na porta da minha casa com exatamente aquilo que eu
precisava!
Não ter que ligar no dia seguinte, não precisar me lembrar
de datas importantes, não ter que dar satisfação dos lugares que vou e horários
em que estarei em casa, não precisar conhecer a família dele e não saber que
seu chefe é digno de um vilão de novela das nove e que apronta poucas e boas
com ele, sinceramente, são prós deste tipo de relacionamento.
Esta relação tem tudo aquilo que me basta. Mas o ser humano
é complexo e na maioria das vezes não nos contentamos somente com o bastante.
Queremos mais. Mais complicação. Mais preocupação, mais sangue na veia e desejo
no olhar. Mais estresse no fim do dia, perguntar qual foi a última proeza do
chefe carrasco. Descobrir qual a cor favorita do outro...
Estou aqui sentada no sofá, passeando por todos os canais da
TV, no som tocando um cd do Coldplay e o meu celular vibrando, é ele. Pelo meu
corpo passa uma onda de calor, um arrepio frio. Por um momento, me pergunto:
qual será a sua cor favorita? Meu dedo está pronto para atender, então ele
exita. Não vou atender a este telefonema.
Estou quebrando três e únicas regras importantíssimas quando
se tem um relacionamento casual, não conhece? Aqui vão elas:
1ª Não se apaixone pelo seu P.A.
2ª Nunca se apaixone pelo seu P.A.
3ª Nunca, em hipótese alguma, se apaixone pelo seu P.A.
Desde já esclareço, pretendente, ficante, namorado, noivo,
marido e amante têm cor favorita. P.A., não!
Volto meus olhos para o celular, mais uma vez ele está me
ligando. Recuso o telefonema. É hora de buscar um novo nome na agenda. Este,
nunca mais voltará aqui em casa. É hora de partir para outra. É hora de não me
contentar com o bastante.
Desligo a TV, o som, troco a água do meu gato, pego a minha
bolsa e saio. É tempo de complicação, de andar na chuva sem medo de me molhar.
E descobrir a cor favorita de alguém.
P.S.: Para quem não sabe, P.A. é uma abreviação de "Pau Amigo".
Minha predileta!
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