7 de maio de 2012

Ode ao Inusitado

Inusitado: Que não surge com frequência; raro, inabitual. Incógnito, inédito. Esse é o tema do texto desta terça. Você já deixou o inusitado entrar na sua vida? Se não, não sabe o que está perdendo. Ele faz você apreciar pequenas coisas e se deixar levar por uma sensação de leveza imensa. Abre os horizontes e te faz ficar espantado com a beleza das sutilezas da vida... Abra a porta devagarinho e o deixe entrar na sua vida, pode ter certeza de que não irá se arrepender.

Gostaria de lembrá-los de que suas sugestões, críticas e histórias são muito benvindas e podem ser publicadas aqui no blog, para enviá-las entre em contato no endereço de e-mail avidaemmiudos@gmail.com. Aguardo a  participação de vocês! Um grande abraço, apreciem as miudezas da vida e boa leitura! (Uma boa história começa com bons olhos.).

"Entrar num mundo de sonhos, viajar por lugares imaginários, brincar com o inusitado, fingir ver o que não há, e acreditar nisto. Perder a noção da realidade, vendo objetos que se transformam, nos enganando e achando graça. Deixar o inconsciente falar mais alto, eliminando tudo o que limita a nossa visão..." - Afghan

Semana corrida e nem tempo para pensar, para parar, para admirar ou me recostar. Muita agitação e novidades desde que abria meus olhos às oito e meia da manhã durante esses últimos dias. Frio, muito frio e uma preguicinha gostosa que me fazia querer permanecer na cama em meio aos meus cobertores quentes e aconchegantes. O mesmo frio que me fazia viver um paradoxo: morrer de desânimo para entrar debaixo do chuveiro e morrer mais ainda para sair do banho quente...

Morria de dúvida ao ter que escolher entre o café ou o chá, durante as manhãs geladas e cheias de afazeres pela frente. Ir para a faculdade era até divertido, reencontrar os amigos depois do feriado e poder ter conversas e momentos de descontração. Eu estava aprendendo a gostar realmente daquela cidade e das possibilidades que ela estava me mostrando todas as manhãs e noites na minha janela. Não a do quarto, mas na janela da vida.

Era bom poder em cada canto da minha casa perceber meus esforços se concretizarem em melhorias, em benfeitorias, em autorrealização e alívio. Quem diria que depois de tanto penar para encontrar uma casa e montá-la, ela estaria tão arrumada e aconchegante? E ter alguém, uma companheira, com quem compartilhar esses momentos e dividir as horas de aflição, de medo, de felicidade plena, baboseiras, filosofias e aniversários, era extremamente gratificante. Gratificante, é essa a palavra. Uma companheira capaz de no meio de uma festa sair correndo junto comigo para observar a lua que nem uma besta. E escutar Leoni em alto e bom som cantando desafinada e apaixonadamente pela casa. E gritar “É o amor” na frente da televisão comendo pipoca e engasgando ao mesmo tempo... É, acho que tinha encontrado a minha cara metade feminina.

Essa mesma amiga, que eu encontrei na faculdade e por não sei qual motivo virou a minha grande confidente e agora morava comigo, foi capaz de perceber que eu voltara daquela viagem diferente. Talvez fossem os meus 21 anos se mostrando para mim, para ela e para o mundo, fazendo com que tudo o que precisava ser realizado, acontecesse; organizando tudo o que era caos: colocando cada coisa em seu lugar, principalmente atitudes, situações, pessoas e sentimentos. 

Fui adentrando mais e mais em mim mesma, nesses últimos dias, e percebendo que nem tudo do passado precisaria ficar necessariamente lá: só aquilo que já tinha prazo de validade vencido, nisso incluo algumas atitudes como sair para encher a cara, procurar por alguém legal na balada, ficar irritada na fila do banco e me estressar com miudezas. Também deixei umas pessoas para trás, como boas lembranças e que construíram o que sou hoje: velhos amores, cheirando à naftalina e conservados com muito esforço, retirei todos eles da prateleira empoeirada e os doei, acho que tem gente que vai fazer melhor proveito deles. De repente a gente descobre que toda essa poeira e mofo dos amores nos davam uma tremenda de uma alergia, nos fazendo muito mal, mas que acabamos nos acostumando com ela. Triste se contentar com sentimentos passados, batidos e repetidos.

Aí, quando você resolve abrir espaço na prateleira, descobre que pode colocar ali novas pessoas, novos amigos e situações. Se entregar ao novo, a novas experiências e ao inusitado. Inusitado que vem para sacudir a poeira, quebrar a prateleira e ocupar todo o espaço, bagunçando tudo. Num primeiro momento ele te faz ficar desorientado, se perguntando porque resolveu aparecer ali, justamente naquele momento. Mas, depois de ter uma boa de uma conversa, ele começa a te ajudar a reorganizar as coisas, te apresenta novos pontos de vista, te auxilia a montar uma nova prateleira e se instala, temporariamente por lá, mas sempre com passe livre para ir e vir. 

Depois de instalado, você começa a se acostumar com a sua presença e a sentir a sua falta quando se ausenta. Mas essa ausência nunca é plena, pois sempre vai dar um jeito de mostrar que está ali, não te deixando esquecê-lo, sutilmente: Mesmo em meio a dias tão agitados quanto os que se passaram. E assim, numa brecha, me peguei adorando a sua estadia em minha prateleira: o cheiro de mofo passou, a alergia deu lugar a boas surpresas e sensação de bem estar. Até ando admirando mais o céu de todas as noites... 

Não julgo, apenas penso e me abro às novidades que vem me apresentando. É ótimo termos esse encontro íntimo acontecendo e ver tudo desenrolar, simplesmente viver levemente. Sem medos, cobranças e poder me mostrar verdadeiramente, sem máscaras. Mas ele me impõe seu mistério, delicioso, mistério.

Por isso eu peço, que ele – o Inesperado – aqui permaneça por mais tempo. E hoje ao me perguntarem se ele tinha chegado na hora certa, depois de muito titubear, sem dúvidas respondo: sim, foi a hora certa! Se veio para ficar, eu não sei, afinal, ele é (in)certo. No final das contas, talvez eu tenha mudado. Talvez o Inusitado tenha me mudado, só espero que ele não se mude.

7 comentários:

  1. O inesperado, o que nos surpreende é o que marca e fica pra sempre em nossas vidas.

    Beijos. Seguindo.

    http://luzia-medeiros.blogspot.com.br/

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    1. Concordo com vc, e acho, ainda mais, que as pessoas têm que se abrir mais para que o inusitado seja permanente em suas vidas... Podemos realmente nos surpreender com coisas singelas. Basta treinarmos nossas atitudes e sentidos.

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  2. Cade o curtir aqui?? hahahah ameeeei *-* meu olhinho até encheu de água :)

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  3. Fe,

    Tudo bem? O inesperado é o caminho para maturidade! Pense em como o novo e o não controlado levaram você a grandes decisões que só foram notadas depois de algum tempo. Assim, ele chega na hora certa, se colocando como deve e mostrando como rota do amanhã.

    Obrigada pelo maravilhoso comentário!

    Beijos.

    Lu

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  4. Que que um sorriso não faz em! ;]

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  5. Ainda com a lista de tarefas em mãos, tão atolada quanto eu própria, cá estou.

    Sua escrita é tão convidativa que ao fim de cada parágrafo, quando digo (vou ler só mais esse), emendo o seguinte até chegar a parte dos comentários.

    Acredito que o inusitado, por definir o novo, acabe sendo repelido pelo medo de mergulhar no desconhecido, afinal, ele ainda assusta.
    Gosto de passear por ele a passos cautelosos, e se me cativar, ai sim o deixo me levar.

    Beijos,
    @ThamiresLyrio
    http://tocadathamy.blogspot.com

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